Suicídio Assistido: Uma decisão pelo fim. “É meu direito à dignidade”

29/05/2015 11:22

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A morte por suicídio assistido de um empresário inglês, ocorrida na Suíça, reabriu o debate sobre a eutanásia na Grã-Bretanha. Jeffrey Spector foi diagnosticado, em 2009, com um câncer na parte superior da coluna vertebral que o deixaria paralítico, e decidiu acabar com sua vida após se despedir dos seus em um jantar familiar. Pediu que não o julgassem por isso e alegou que agia assim “pelo bem de sua família”. Como a eutanásia é ilegal no Reino Unido, o britânico compareceu a uma clínica com sede em Zurique, que cobra cerca de 10.000 euros pelo serviço.

A reportagem é publicada por Página/12, 27-05-2015. A tradução é do Cepat.

Na quarta-feira passada, Jeffrey Spector, de 54 anos, viajou para Suíça com sua família e amigos. No dia seguinte, comeu com eles em um restaurante e todos sorriram para uma foto. Era o último jantar: 16 horas depois, Spectormorreu em um centro de suicídio assistido em Zurique. “Estou me precipitando. Considero esta a opção menos ruim, o melhor para minha família a longo prazo. Estou indo antes de minha hora, mas não estou assustado”, admitiu frente a uma câmera antes de morrer. “Era uma pessoa sadia, mas minha vida deu um giro de 180 graus. O que começou como uma dor nas costas, em 2008, tornou-se uma doença que me levou a tomar a decisão mais horrível. Meus amigos e principalmente minha família me incentivaram a não passar por isto”, recordou o empresário de Lytham St Annes.

Em inícios deste ano, a saúde de Spector piorou o ponto de que não demoraria a ficar completamente paralítico do pescoço para baixo. Seu diagnóstico não só era pouco venturoso, como também irreversível. “Se tivesse sido mais abaixo, na coluna vertebral, só perderia o uso de minhas pernas, teria ficado angustiado, mas pelo menos poderia enfrentar a situação”, ressaltou. Nos últimos meses, suas dores aumentaram e o empresário sentiu que a paralisia era iminente. Chamava a si mesmo de “uma bomba de tempo caminhando”. “Tinha dificuldades para usar as mãos e não sentia a pressão nos dedos. Percebi que doença cruzou a linha vermelha e que eu estava cada vez pior”. Como consequência, pediu uma reunião para ir à clínica Dignitas e colocar fim em sua própria vida.

Na Holanda, Bélgica, Colômbia, regiões da Espanha e alguns estados da Austrália e dos Estados Unidos, a regulação da eutanásia foi aprovada e declarada inconstitucional, sucessivamente, ao longo dos anos. Por isso, a legislação em certos casos é ambígua. Na Suíça, o auxílio ao suicídio não é crime: seu requisito irreversível é que por trás da atuação de quem ajuda não exista nenhuma motivação egoísta, nem de tipo pessoal ou econômica. O país alpino conta com três organizações voluntárias que dão apoio a pessoas que a solicitam – ExitAMD e Dignitas – e a assistência do médico não é necessária, exceto para a prescrição do fármaco letal. Em Dignitas – que abriu em 1998 e cobra cerca de 7.000 libras (uns 9900 euros) por paciente -, 126 britânicos acabaram com sua vida por este meio, entre 2008 e 2012, motivo pelo qual reavivou o debate no Reino Unido. O parlamentar trabalhista Charles Falconer afirmou que deseja reintroduzir um projeto de lei que aprove a eutanásia. “Independente do lado que se assuma no debate, é um tema que deveria voltar a ser debatido. Não é certo que os enfermos terminais não tenham a opção de acabar com sua vida”, disse.

Spector – casado e pai de três filhas de 21, 19 e 15 anos – esperou que sua filha menor fizesse os exames secundários para assumir sua determinação. “Sei que algumas pessoas irão me criticar. No entanto, nunca julguem ninguém, a menos que tomaram os seus sapatos. Acredito em meu direito humano à dignidade. Quero poder segurar uma xícara de chá e amparar o telefone”, explicou o britânico, que um dia antes de morrer publicou uma fotografia jantando em um restaurante com sua família.

“Agora, ele está em paz, distante do medo que o cercou nas últimas semanas de sua vida. Apoiamos e respeitamos sua decisão”, disseram seus achegados.