Observatório de Justiça Ecológica promove palestra sobre protagonismo feminino na luta ambiental

21/03/2016 17:43

http://noticias.ufsc.br/2016/03/observatorio-de-justica-ecologica-promove-palestra-sobre-o-protagonismo-feminino-na-luta-ambiental/

Observatório de Justiça Ecológica (OJE), grupo de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSC (PPGD/UFSC), promoverá a palestra Oficina de Direitos Humanos: o protagonismo das mulheres por justiça socioambiental, na segunda-feira, 11 de abril, às 10h, no auditório do Centro Socioeconômico (CSE). A palestra será ministrada por Daniela Rosendo, professora da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG – Joinville) e autora do livro Sensível ao cuidado: Uma perspectiva ética ecofeminista. O evento é gratuito e aberto à comunidade.

Coordenado pelas professoras Leticia Albuquerque, do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), e Paula Brügger, do Centro de Ciências Biológicas (CCB), o Observatório de Justiça Ecológica tem o objetivo de investigar os conflitos socioambientais que ocorrem na América Latina e especialmente no Brasil, posicionando-se contra a lógica de exploração dos recursos naturais. A palestra marcará o início das atividades do grupo em 2016.

O livro Sensível ao cuidado: Uma perspectiva ética ecofeminista foi lançado em outubro do ano passado e faz uma análise crítica sobre a filosofia ecofeminista da pesquisadora estadunidense Karen J. Warren. Daniela Rosendo aponta os alcances e limites da teoria de Warren, segundo a qual todos os sistemas de dominação devem ser questionados.

A ÉTICA DO ANTROPOCENO

29/02/2016 11:22

http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/antropoceno-ou-mudamos-nosso-estilo-de-vida-ou-a-terra-sucumbira-entrevista-especial-com-wagner-costa-ribeiro/552037-antropoceno-ou-mudamos-nosso-estilo-de-vida-ou-a-terra-sucumbira-entrevista-especial-com-wagner-costa-ribeiro

Antropoceno: ou mudamos nosso estilo de vida, ou a Terra sucumbirá. Entrevista especial com Wagner Costa Ribeiro

“De fato, um desafio importante significa repensar o significado da vida: o que queremos da nossa vida, da nossa organização social? Para que vivemos?”, provoca o geólogo.

Imagem: www.eltribuno.info

consumo exagerado, que anseia sempre o novo e descarta com facilidade quaisquer objetos, é o comportamento que tem predominado na sociedade. Com o aumento da capacidade de produção em nome do lucro, a oferta de produtos de toda ordem se amplia cada vez mais e, no sentido oposto, os recursos naturais já dão sinais de esgotamento. Essas são algumas das características do tempo em que vivemos e que os estudiosos têm denominado de Antropoceno. Trata-se de uma era em que a capacidade de intervenção da espécie humana no ambiente recebe o foco das atenções.

Conforme ressalta, em entrevista por telefone àIHU On-Line, o geógrafo e professor Wagner Costa Ribeiro, a importância e grande diferença do Antropoceno em relação às eras anteriores é que “pela primeira vez na história geológica da natureza – das eras – se assumiu a espécie humana como principal força motriz de transformação tanto da biosfera quanto da litosfera e atmosfera”.

As transformações no ambiente se intensificam na medida em que o avanço tecnológico desenvolve, especializa e potencializa o poder dos humanos de manejar os elementos da natureza de acordo com seus interesses. No entanto, a exploração indiscriminada do planeta já apresenta as contas das consequências que começam a ser pagas pelos que vivem o presente, mas serão cobradas com veemência dos que ainda estão por vir se o estilo de vida da sociedade não for repensado.

Para o geólogo, “esse é um debate de caráter ético que nós devemos começar cada vez mais a aprofundar. Apesar de já se ter começado a falar sobre esse tema, as discussões ainda são muito incipientes. Trata-se da questão do direito geracional, que de algum modo nasceu com a preocupação com a sustentabilidade, que em linhas gerais significa deixar para as gerações futuras as condições atuais do planeta. Aos poucos estamos vendo que será impossível manter esse ritmo intenso de uso de recursos naturais”.

Wagner Costa Ribeiro é graduado em Geografia, mestre e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-Graduação em Geografia Humana e Ciência Ambiental da USP. Obteve a livre docência também na USP e realizou estudos de pós-doutorado na Universidad de Barcelona – UB, na Espanha. Também coordena o Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados da USP. Entre suas obras, destaca-se A ordem ambiental internacional(São Paulo: Contexto, 2001).

Confira a entrevista.

Foto: www.imagens.usp.br

IHU On-Line – O que as últimas pesquisas que têm sido feitas indicam sobre o Antropoceno? Já se pode afirmar que de fato o mundo entrou mesmo em uma nova época geológica?

Wagner Costa Ribeiro – O primeiro a anunciar e popularizar a ideia do Antropoceno como nova era geológica foi o Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen, em 2002. Em 2008, a Sociedade Geológica do Reino Unido, em uma reunião, acabou afirmando a existência do Antropoceno, portanto não há mais controvérsias em relação a estarmos ou não diante de uma nova era geológica. A questão é procurar identificar o que caracterizaria esse novo momento a ponto de merecer um novo rótulo ou título. Já temos algumas características que nos permitem dizer que de fato estamos em outro momento. Agora, o primeiro aspecto a deixar muito claro é que, pela primeira vez na história geológica da natureza – das eras –, se assumiu a espécie humana como principal força motriz de transformação tanto da biosfera quanto da litosfera e da atmosfera.

Se analisarmos do ponto de vista da existência da sociedade, corresponde ao período da modernização, que vai do final do século XIX até hoje. Logo, temos em torno de 130 ou 140 anos nessa nova era geológica, que é marcada por algumas características bastante importantes, e são todas elas características humanas:

– a primeira é o incremento tecnológico importante a partir da máquina a vapor, que faz com que o uso de combustíveis fósseis cresça muito – teremos aí, no primeiro momento, o carvão;

– depois temos a invenção do motor a explosão, inclusive com o uso de outro combustível de matriz fóssil, que é justamente o petróleo.

E o que representa ter máquinas como as que são movidas a vapor ou as que são movidas a partir da queima de combustível, como é o caso do motor a explosão? Nós incrementamos a nossa força motriz, nossa força de transformação da superfície terrestre. Assim, uma tarefa que era feita por muitos homens em muito tempo, passa a ser feita com uma simples máquina, e isso faz com que tenhamos uma capacidade muito maior de transformação da superfície terrestre.

Essa é de fato uma característica fundamental do chamado Antropoceno, ou seja, do ponto de vista das ciências sociais corresponde à modernização e tem grandes implicações na organização social. Assim, após a invenção dos motores, teremos, por exemplo, a emergência da sociedade capitalista, e bem mais tarde, na segunda metade do século XX – para alguns é um pouco antes, mas eu prefiro demarcar depois da Segunda Guerra Mundial – teremos asociedade de consumo em escala bastante abrangente.

Depois, a partir dos anos 1980 e, principalmente, a partir dos últimos anos, com a saída da pobreza de uma parte expressiva da população de países como BrasilChina e Índia, houve um incremento desse consumo e se passou a ter outra característica importante do Antropoceno: um consumo bastante elevado, que faz com a demanda sobre os recursos naturais aumente drasticamente. Esta é outra característica importante do Antropoceno: o uso intensivo derecursos naturais.

Se analisarmos as reservas de minério de Ferro, por exemplo, e comparar o uso que se tinha até o século XIX com o que se usou no século XX e mesmo agora no XXI é possível perceber que o incremento de consumo desse tipo de material é muito maior. Essa atitude faz com que a superfície terrestre seja muito alterada.

A partir dessas intervenções humanas temos diversas implicações, como as mudanças climáticas, por exemplo, pois grande parte do uso dos combustíveis fósseis acaba gerando carbono e isso se concentra na atmosfera, fazendo com tenhamos consequências para além da superfície terrestre.

“Não há dúvidas de que temos de mudar nosso estilo de vida”

IHU On-Line – Quais são os sinais geológicos que indicam que estamos numa nova época e quais são as características centrais desse período?

Wagner Costa Ribeiro – Os sinais geológicos virão das ações dos humanos. Por exemplo, já estão ocorrendo intervenções nasuperfície marinha. É um dado que devemos ressaltar, porque não se trata apenas da extração de petróleo, como é o caso do Brasil, mas também em alguns países, como Papua-Nova Guiné e Austrália, já teve início a mineração na superfície marinha. Ou seja, além de alterar a superfície terrestre, passaremos a mexer também nas profundezas marinhas, o que pode trazer consequências muito sérias, já que teremos uma alteração drástica do fundo marinho e isso pode afetar, por exemplo, toda a microfauna local, pode liberar gases para atmosfera, que estão armazenados de alguma maneira, assim como pode trazer consequências ainda não muito bem conhecidas.

Portanto, a nossa característica de intervenção, nossa capacidade motriz aumentou muito. O nosso movimento de pinça, que é o primeiro elemento que faz com que tenhamos a capacidade de capturar algo, que era feito simplesmente com o polegar e o opositor, hoje ganhou uma força motriz infinitamente maior; temos capacidade tecnológica de produzir máquinas que fazem com que esse movimento simples de coletar algo ocorra, por exemplo, no caso do pré-sal, a 7 mil metros a partir do fundo do mar.

Isso mostra que temos uma enorme capacidade de extração, o que é de fato muito preocupante, porque estamos extraindo recursos, muitos dos quais não são reaproveitados e, principalmente, é uma herança de processos naturais que algumas gerações do planeta Terra estão usando sem se preocupar com as gerações futuras. Esse é um debate de caráter ético que nós devemos começar cada vez mais a aprofundar. Apesar de já se ter começado a falar sobre esse tema, as discussões ainda são muito incipientes. Trata-se da questão do direito geracional, que de algum modo nasceu com a preocupação com a sustentabilidade, que em linhas gerais significa deixar para as gerações futuras as condições atuais do planeta. Aos poucos estamos vendo que será impossível manter esse ritmo intenso de uso de recursos naturais.

As mudanças no campo são “um exemplo bastante singelo
do quanto nós incrementamos a nossa capacidade
de alteração do ambiente”. Créditos das Imagems:
virtualmuseu.blogspot.com.br e capitaldocampo.com.br.

IHU On-Line – O que distingue o Antropoceno do Holoceno?

Wagner Costa Ribeiro – O que distingue de fato é a ação humana como a principal força motriz de transformação da superfície terrestre, inclusive com implicações na atmosfera e na biosfera. Há 10 mil anos, no final da primeira revolução agrícola, nossa capacidade de revolver a terra estava baseada no arado, então era muito menor. Hoje nós temos, por exemplo, máquinas agrícolas que não só revolvem a terra, mas que também plantam; e outras que além de cultivar, praticamente embalam o produto.

As diferenças ficam claras se fizermos uma comparação entre um arado puxado por um homem ou eventualmente um animal e uma máquina dessas, que tem até oito palhetas funcionando ao mesmo tempo, com um apenas operário dando conta de uma vasta área. Esse parece um exemplo bastante singelo, mas muito claro, do quanto nós incrementamos a nossa capacidade de alteração do ambiente e isso está associado ao processo demodernização tecnológica; portanto, antes de mais nada, é um processo histórico. A grande diferença do Antropoceno é admitir a espécie humana, portanto admitir a história, a sociedade como a força motriz de processos de alteração da natureza em larga escala.

IHU On-Line – Na prática, alguma mudança no nosso estilo de vida é necessária pelo fato de estarmos entrando nessa nova era?

Wagner Costa Ribeiro – Essa é questão central. Não há dúvidas de que temos de mudar nosso estilo de vida. Oplaneta terra é finito, ele tem uma certa capacidade de fornecer elementos naturais, e se tivermos cada vez mais demanda sobre essa mesma base, ou seja, se temos um volume de minério de ferro, determinado volume de bauxita, de petróleo, de água e de fontes energéticas, é evidente que se aumentar a pressão sobre essa quantidade, que é fixa, nós teremos conflito.

Então, não por acaso, organismos multilaterais, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, criaram órgãos para discutir conflitos ambientais. De fato, temos que mudar o estilo de vida, porque esse modelo de crescimento da produção sem limites não pode continuar, é um engano, é uma ilusão achar que continuaremos produzindo sem limitações. Ações como reciclagem e reaproveitamento de materiais não são mais um modismo ecológico, passam a ser uma necessidade para a própria manutenção de produção da sociedade de consumo contemporânea.

Nos últimos tempos, todos nós que trabalhamos com as questões socioambientais há muitos anos ganhamos um aliado muito importante, eu diria até inesperado, que foi o Papa Francisco. O Papa, com sua Encíclica [Carta Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum], lançada no ano passado, de maneira bastante contundente e com uma penetração maior do que muitos pesquisadores, deixou claro que nós teremos de alterar, sim, o nosso estilo de vida.

Não é possível manter essa sociedade pouco inteligente, que faz um enorme esforço científico e tecnológico para gerar um objeto, e, poucos meses depois – quando muito um ano depois – o descarta sem a menor necessidade, para fazer com que as pessoas comprem um novo. É o que ocorre, por exemplo, com aparelhos de telefone celular, computadores, tablets e outros eletrônicos; nesses casos, o apelo da inovação é utilizado para fomentar a venda, a qual, se verificarmos na essência, apresenta uma diferença pouco expressiva, mas reforça a ideia de que sempre se deve buscar algo novo, que de fato nem é tão novo.

Então, esse é de fato um desafio importante e que significa repensar o significado da vida: o que queremos da nossa vida, da nossa organização social? Para que vivemos? Algumas pessoas, infelizmente, vivem para ter, para consumir, para comprar, e isso efetivamente não satisfaz. Já há vários trabalhos de psicologia de massa acerca do consumo que mostram que determinado nível de consumo e de renda faz com que as pessoas não tenham mais no consumo em si uma forma de realização pessoal, sendo preciso buscar outros elementos, e aí as escolhas são as mais diversas. Não entrarei nesse campo, mas há quem vá para o campo das drogas, da violência, ou então da religião, dos esportes radicais etc.

Há uma busca de sentido para vida, porque a sociedade do consumo efetivamente é muito ingrata, pois gera sempre a frustração. Por exemplo, você acabou de comprar um aparelho ou instrumento tecnológico que deseja e pouco tempo depois você se sente frustrado porque o mesmo fabricante que vendeu aquilo diz: “agora isso não vale mais, o que vale é esse novo”. E essa frustração permanente tem gerado muita inquietação, muito mercado de trabalho para o pessoal da saúde mental. Não por acaso, a área da saúde mental cresce e as doenças mentais crescem em escala muito preocupante, porque essa frustração permanente deve ser cessada. É preciso, portanto, reorganizar a vida, pensá-la a partir do que significa estar vivo no planeta terra e do que podemos usufruir, não apenas da base material.

Isso não significa, evidentemente, abandonar a base material. Ninguém está dizendo que não é mais para ter computador, nem telefone celular, mas talvez não seja necessário trocar de aparelhos celulares e computadores a cada seis meses, como ocorre em alguns lugares do mundo, em especial nas camadas mais abastadas.

IHU On-Line – Algumas notícias informam que um dado em aberto entre os pesquisadores que estudam o Antropoceno é definir qual é a data formal do seu início. Como está essa discussão e qual data indica melhor o início dessa nova era geológica?

Wagner Costa Ribeiro – Essa discussão é polêmica. Eu diria que a Revolução Industrial é o grande marco e corresponde ao que na história se chama de processo de modernização. Acredito que a Revolução Industrial é o grande marco, que é quando passamos a ter uma força motriz bastante ampliada; ou seja, como já disse anteriormente, foi desenvolvida a máquina a vapor e depois incrementada ainda mais por uma máquina com motor a explosão, com uma capacidade de produção e de extração de recursos naturais bastante ampliada.

Então, esse é realmente o grande marco, mas é um marco das ciências da sociedade e, muitas vezes, os colegas das ciências da natureza não são muito sensíveis a esse tipo de argumento. Não são todos os pesquisadores, evidentemente, mas eu diria que alguns ainda não são sensíveis e têm alguma dificuldade em assimilar essa ideia. Mas parece razoável esse pensamento se tivermos em conta que o Antropoceno é marcado pela ação humana em larga escala, e isso começou com a Revolução Industrial.

Portanto, se fosse para marcar um ponto, apesar de que acho isso pouco útil na história – confesso a você, pois não vejo necessidade em precisar -, mas eu diria que a partir da Revolução Industrial nós tivemos de fato uma aceleração muito intensa dessa transformação da superfície terrestre.

“O Antropoceno é marcado pela ação humana em larga escala, que começa com a Revolução Industrial”

IHU On-Line – A discussão sobre mudanças climáticas tem algum peso nessa nova era geológica?

Wagner Costa Ribeiro – Essa é outra questão extremamente importante, que tem algumas interpretações possíveis: uma interpretação apresenta o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima], que, ao contrário do que alguns dizem, estaria mostrando dados que não apresentam claramente a gravidade das mudanças climáticas. Então é uma crítica ao IPCC, que, segundo esse grupo, não estaria apresentando claramente a gravidade das mudanças climáticas e estaria, de alguma maneira, atenuando um pouco os problemas.

A outra posição é minoritária e critica o IPCC dizendo que não há mudança climática e nem aquecimento global. Já a visão do IPCC diz que temos de controlar até 2 graus Celsius, que é bastante conhecida. Nesse debate, destas três visões, posso dizer que nós temos cada vez mais evidências de que as condições climáticas do planeta, pelos menos na escala local, estão mudando bastante.

Eu posso falar um pouco da cidade onde moro, São Paulo. Já tenho 53 anos e São Paulo não é mais a terra da garoa de quando eu tinha entre oito e dez anos de idade. Houve uma mudança no microclima, mas isso tem a ver com mudança climática? Necessariamente, não. Nós tivemos um processo de intensificação da urbanização e não só em São Paulo, mas também em várias outras metrópoles no mundo, fazendo com que as condições locais tenham uma alteração bastante expressiva. Portanto é uma característica do Antropoceno, ou seja, nós mudamos a superfície terrestre de maneira radical.

Aquela massa de ar frio que chegava tinha um ambiente florestado, mas muitas vezes ela não encontra mais essas condições e segue por uma superfície mais aquecida, tendo uma precipitação muito mais intensa. Com isso é possível explicar por que São Paulo não é mais a terra da garoa. Mas como se explica a seca que tivemos agora? Aí não é mais a escala local, temos que pensar processos de ordem mais ampla, de pressão atmosférica.

É a mesma coisa que estamos vendo junto a Manaus, no município de Presidente Figueiredo, com uma seca bem aguda. Ou seja, estamos tendo fenômenos extremos com maior recorrência, e isso, segundo o próprio IPCC e vários pesquisadores que se dedicam a analisar a mudança climática, seria de fato uma indicação de que na escala mais ampla, para além da escala local, nós estamos já vivendo processos que têm relação com essa maior presença dos gases de efeito estufa na atmosfera.

Então, o que eu estou dizendo é que ainda é precoce afirmar que estes eventos extremos são decorrência doaquecimento global, mas não é precoce dizer que eles estão confirmando algumas projeções que o IPCC vem fazendo desde os anos 1980 do século passado. Nesse caso, acredito que surja um princípio muito importante que, aliás, está na própria Convenção da Mudança Climática, que é de 1992. Lá já está claro o princípio da precaução. O que é este princípio? Na dúvida, enquanto não houver a certeza científica, é preciso tomar ações de precaução para evitar o acirramento de um problema, e isso devemos ter em mente quando falamos de mudança climática: nós não temos certeza, mas se as previsões se confirmarem, as perspectivas são muito difíceis.

Diante disso, já que não conseguimos controlar a emissão da energia solar, já que não conseguimos controlar a emissão de gases de efeito estufa de um vulcão – alguns pesquisadores defendem que o vulcão emite muito mais gases que toda a espécie humana -, temos que controlar a nossa parte, que implica, justamente, em restringir o uso decombustíveis fósseis, mudar práticas agrícolas etc. É nesse ponto que estamos.

Acabamos de assistir a uma reunião em Paris, agora em dezembro, onde os avanços finalmente apareceram. Nas críticas, alguns dizem que o acordo firmado no encontro é insuficiente e outros dizem que foi o pacto possível. Eu, que trabalho com esses assuntos há alguns anos, fiquei satisfeito com o que foi acordado em Paris e entendo que estamos em um processo de negociação, um processo difícil e penoso que implica em mudança do estilo de vida. Aí voltamos à pergunta que você me fez antes: a mudança climática vai necessariamente impor mudança no estilo de vida, inclusive modificações naquilo que a espécie humana construiu.

Nós teremos que ter ajustes importantes, por exemplo, em cidades costeiras, e pouco disso tem sido debatido e discutido, especialmente no Brasil. Em alguns países, já há estudos profundos mostrando o que fazer em caso deelevação do mar a 20, 50 ou 100 centímetros, por exemplo, baseado em modelos e estudos da costa. Estou falando de casos como a Espanha e não de países mais centrais. Nós temos de fato a mudança climática ainda como uma incerteza, mas com indícios cada vez mais claros de que aquilo que se previa está ocorrendo.

Assim, é preciso tomar ações agora. No caso brasileiro há um agravante, pois temos um histórico social dedesigualdade muito aguda, que faz com que muitas pessoas estejam em situação de vulnerabilidade e isso pode ser agravado ainda mais pela mudança climática. Portanto, temos de saldar a dívida social e ao mesmo tempo fazer uma ação de adaptação para a mudança climática.

Essa pode ser uma excelente oportunidade para movimentar o país e nos colocar na direção da geração de emprego e da saída dessa crise conjuntural, apostando, por exemplo, na criação de saneamento básico, habitação de interesse social, revitalização de centros urbanos com moradia social. Enfim, poderíamos gerar muito emprego e muita atividade econômica pensando em oferecer, por exemplo, moradia de menos risco para a população carente do país e, dessa forma, faríamos também uma ação de adaptação, construindo casas mais resistentes às intempéries que podem vir a ocorrer em se confirmando as mudanças climáticas.

IHU On-Line – Já é possível estimar que mudanças geológicas podem ocorrer futuramente por conta do Antropoceno?

Wagner Costa Ribeiro – Já estão ocorrendo. Se analisarmos, por exemplo, algumas intervenções que ocorrem junto à área costeira, alguns portos alteram toda a dinâmica da geomorfologia costeira. Usarei como exemplo um caso concreto: a praia de Iracema, em Fortaleza – capital do Ceará e uma das principais metrópoles do Nordeste brasileiro –, que sofreu sérias consequências com a construção de um porto. Então, temos sim consequências hoje, que não são mais surpreendentes e são muito imediatas.

Outro exemplo: Quantas avenidas de fundo de vale foram construídas no Brasil? O que representa fazer uma avenida de fundo de vale? Haverá uma aceleração da chegada da água no fundo do vale e a consequência é o alagamento. Esse fenômeno tem uma consequência geológica, porque o material será transportado com mais velocidade; mas tem também uma explicação humana, porque nós somos a causa e muitas quem sofre as consequências não é quem causa o problema, mas, infelizmente, quem está vivendo junto à área de alagamento.

Dessa forma, já temos sim elementos dessas consequências. Por exemplo, se pensarmos na quantidade de lagos artificiais que já foram construídos na superfície terrestre, se pensarmos no volume do material que foi retirado para fazer terraplanagem para a construção de estradas, temos uma série de variáveis que mostram que alteramos bastante a superfície terrestre, afetando a dinâmica geológica. Porque a geologia não é só o estudo das rochas, abarca uma série de dinâmicas, como o processo de sedimentação e o transporte de material, que estão sendo bastante afetadas.

“Temos de saldar a dívida social e ao mesmo tempo fazer uma ação de adaptação para a mudança climática”

IHU On-Line – Que tipo de “pegada, marca geológica” imagina que o homem “pós-antropoceno” deixa na Terra?

Wagner Costa Ribeiro – Nós deixaremos um aglomerado de material, que será muito rico para os arqueólogos do futuro, porque nós não estamos tendo o cuidado de separar elementos que a natureza criou separadamente. Darei um exemplo muito simples: muitas peças do vestuário hoje são altamente complexas, combinando algodão com tecido originário de petróleo e adicionando metais; é só analisarmos qualquer calça jeans com acessórios ou nylon com alguns enxertos de metal. A combinação de elementos de fabricação de utensílios já existia no passado, mas eram apenas elementos naturais. O novo agora é justamente acrescentar esse material a outros com origem do petróleo, tornando-se mais difícil separá-los depois.

Se observarmos as edificações, a situação não é diferente. Nós introduzimos dentro de paredes dutos metálicos para transportar energia, dutos de plástico para proteger os dutos metálicos que transportam energia, enfim, vamos sofisticando os ambientes, misturando materiais. Portanto, essa é uma característica nossa, porque nós misturamos, mas não nos preocupamos depois em separar novamente, até para reaproveitamento.

Dessa forma, a pegada que deixaremos será um grande aglomerado de materiais misturados, ou seja, estamos misturando aquilo que natureza levou anos para deixar organizado, separado. Estamos nos apropriando disso e embaralhando esse material, e isso terá consequências: umas delas é a de que acabaremos com os elementos naturais, e outra poderá ser de que, no futuro, se quiser se reaproveitar esse material, haverá um enorme trabalho para começar a juntar um pouquinho do minério de ferro que está em cada peça, um pouquinho de bauxita que está em outras peças etc.

Isso já está ocorrendo, visto que alguns países já começaram hoje a fazer prospecção em antigos lixões para buscar material de qualidade. Portanto, talvez já tenhamos alguma indicação de que é preciso utilizar de outra maneira essa oferta que a natureza nos deixou como herança. Ninguém garante que somos os únicos usuários desse estoque de material que a natureza nos deixou, por isso temos de pensar que quem está por vir também tem o direito de usar esse material.

Por Patricia Fachin e Leslie Chaves

Reino Unido autoriza manipulação genética de embriões para pesquisa

01/02/2016 15:18

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2016/02/reino-unido-autoriza-manipulacao-genetica-de-embrioes-para-pesquisa.html

01/02/2016 10h18 – Atualizado em 01/02/2016 10h27

País é primeiro no Ocidente a conceder licença para alterar DNA humano.
Autorização foi emitida para pesquisa que estuda abortos espontâneos.

Da France Presse

Imagem de microscópio mostra um blastocisto, embrião humano de uma semana (Foto: Flickr.com/gloryfish - CC)Imagem de microscópio mostra embrião humano em estágio inicial (Foto: Flickr.com/gloryfish – CC)

O autoridade britânica que regulamenta a embriologia concedeu nesta segunda-feira (1) a primeira autorização para modificar geneticamente embriões humanos, como parte de pesquisas sobre as causas dos abortos espontâneos.

A autorização se refere à utilização do método Crispr-Cas9, que permite centrar-se nos genes defeituosos para neutralizá-los de maneira mais precisa.

“Nosso comitê aprovou a solicitação da doutora Kathy Niakan, do Instituto Francis Crick, para renovar sua licença de pesquisa em laboratório, incluindo a edição genética de embriões”, indicou a Autoridade de Fertilização Humana e de Embriologia (HFEA, em inglês) em um comunicado.

O pedido havia sido apresentado no mês de setembro para estudar os genes que atuam no desenvolvimento das células que vão formar a placenta. O objetivo é determinar por que algumas mulheres sofrem abortos espontâneos.

A modificação genética de embriões para tratamento é proibida no Reino Unido. No entanto, está autorizada desde 2009 para pesquisa, com a condição – entre outras – de que os embriões sejam destruídos ao fim de duas semanas no máximo.

Mas esta é a primeira vez em que uma autorização formal para manipular geneticamente embriões foi concedida de forma oficial, ao menos em um país ocidental.

Em algumas nações, no entanto, esta prática não está formalmente proibida e não requer necessariamente um pedido de autorização.

Ao mesmo tempo, a HFEA confirmou nesta segunda-feira a proibição do uso dos embriões para transplantes em mulheres.

Em abril do ano passado, cientistas chineses anunciaram que conseguiram modificar um gene defeituoso de vários embriões, responsável por uma doença do sangue potencialmente letal. A notícia provocou uma grande polêmica sobre as consequências éticas deste tipo de prática.

Os próprios cientistas chineses indicaram que registraram “grandes dificuldades” e afirmaram que seus estudos “demonstravam a necessidade urgente de melhorar esta técnica para aplicações médicas

NOVA ZELÂNDIA RECONHECE LEGALMENTE OS ANIMAIS COMO SERES SENCIENTES

13/12/2015 23:05

http://www.olharanimal.org/acoes-publicas/5725-nova-zelandia-reconhece-legalmente-os-animais-como-seres-sencientes

Enviado por: Haiumy Garcia

Por Jonathan Carson / Tradução de Marli Vaz de Lima

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Uma mudança na lei da Nova Zelândia reconheceu o que os tutores de animais e os cientistas já sabem há anos – que os animais têm sentimentos.

A alteração da Lei do Bem-Estar Animal, que teve sua leitura final na terça-feira, afirma que os animais, assim como seres humanos, são seres “sencientes “.

“Dizer que os animais são sencientes é afirmar explicitamente que eles podem experimentar emoções positivas e negativas, incluindo dor e angústia”, disse Virginia Williams, presidente da Comitê Consultivo Nacional de Ética Animal (National Animal Ethics Advisory Committee).

“A explicitação é nova e marca mais um passo ao longo da jornada do bem-estar animal.”

O projeto de lei também proíbe o uso de animais para testes de cosméticos.

Dr. Williams disse que o reconhecimento legal de senciência animal fornece um apoio mais forte às exigências da Lei do Bem-Estar Animal.

A gerente da SPCA (Sociedade Para a Prevenção da Crueldade aos Animais, do inglês Society For The Prevention Of Cruelty To Animals) da cidade de Nelson, Donna Walzl, disse que as mudanças foram “maravilhosas”.

“É muito bom vê-lo finalmente trazido para a legislação. É impressionante.”

Ela disse animais que vieram para os cuidados da SPCA muitas vezes exibiram emoções como os humanos.

“Você pode ver que eles têm ansiedade de separação e que aquilo está mostrando emoção. É quase uma emoção humana”, disse ela.

“É o mesmo com os animais que vemos que são negligenciados e têm problemas de bem-estar reais e verdadeiros. Eles sofrem por isso. Você pode ver em seus olhos. É realmente muito triste”

Em uma apresentação do projeto de lei pela SPCA de Auckland, foi dito ser necessária uma declaração de senciência “porque a maioria das leis da Nova Zelândia trata os animais como “coisas ” e ” objetos ” e não como seres vivos”.

Walzl disse que esperava que o reconhecimento dos animais como seres sencientes acrescentaria “mais peso” aos casos de abuso e negligência no tribunal.

“Espera-se que haja algumas penalidades mais severas e que, obviamente, crie-se um impedimento maior para as pessoas fazerem essas coisas.”

O projeto também prevê um sistema de sanções que permite tratar níveis baixos a médios de agressão de forma mais eficaz, e dê aos fiscais do bem-estar animal o poder de emitir notificações de conformidade, entre outras medidas.

O Presidente da Associação Veterinária da Nova Zelândia, Dr. Steve Merchant, disse que o projeto de lei dá maior clareza, transparência e aplicabilidade às leis de bem-estar animal.

“As expectativas sobre o bem-estar animal têm mudado rapidamente, e práticas que antes eram comuns para animais de estimação e de criação em fazendas já não são aceitáveis ou toleradas. O projeto de lei traz a legislação em consonância com a mudança de atitude da nossa nação sobre a condição dos animais na sociedade.”

O projeto de lei foi apresentado ao parlamento pelo ministro das indústrias de base Nathan Guy em maio de 2013.

Livro ‘Experimentação animal: um obstáculo ao avanço científico’ será lançado na UFSC

02/12/2015 21:15

http://noticias.ufsc.br/2015/12/livro-experimentacao-animal-um-obstaculo-ao-avanco-cientifico-sera-lancado-na-ufsc/

Durante o I Congresso Internacional Interdisciplinar de Direitos Animais, sediado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) nos dias 7 e 8 de dezembro, haverá o lançamento do livro “Experimentação animal: um obstáculo ao avanço científico“, do professor  Thales Tréz, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

As inscrições para o congresso são gratuitas e podem ser feitas durante o evento.

Sobre o livro

A pesquisa biomédica que se sustenta na utilização de animais “de laboratório” tem raízes muito antigas e poderosas. O debate sobre a necessidade de se perpetuarem as práticas de apropriação dos corpos e das vidas de animais não humanos para ensino e pesquisa finalmente escapa dos ambientes acadêmicos e atinge a população em geral. As discussões, no entanto, são ainda muito pontuais e pouco aprofundadas, uma vez que a maioria dos canais de comunicação, abastecidos pelas informações de pesquisadores vivisseccionistas, tem vínculos com o sistema produtivista ora vigente neste tipo de ciência. O autor deste livro, exibindo sua vocação natural de educador, foge deliberadamente dos questionamentos éticos (embora fique muito nítida sua posição nas entrelinhas), arregaça as mangas e joga luz num palco pouco iluminado. Utilizando-se de rigor científico, reúne informações que falam por si sós e aos poucos desconstrói a falácia da eficiência das práticas vivisseccionistas. A sociedade vive um momento de mudanças. Muitas coisas que já nos serviram não nos servem mais. Esta obra é um farol, sobretudo para pesquisadores, professores, alunos de graduação e pós-graduação que queiram se aprofundar no assunto. Começa a preencher uma imensa lacuna na formação de novos cientistas em nosso país. Olha para o futuro e nos convida a participar da construção de uma nova Ciência, que seja mais eficaz para remediar e curar as mazelas humanas, sem ser injusta com outras formas de vida.

Mais informações nos sites da editora e do congresso.

Dez asneiras que a gente ainda ouve por aí sobre mudança climática – IHU -UNISNOS

27/11/2015 11:24

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/549516-dez-asneiras-que-a-gente-ainda-ouve-por-ai-sobre-mudanca-climatica

“Então a pergunta que precisa ser feita é: há consenso entre os climatologistas – que fazem pesquisa na área e publicam suas pesquisas em periódicos com revisão por pares, sujeitos ao julgamento da comunidade científica e ao falseamento – de que o aquecimento global é real e causado por humanos?”, escreve Claudio Angelo, jornalista, em artigo publicado por EcoDebate, 26-11-2015.

Eis o artigo.

O planeta está esquentando, o Sudeste está sem água, as geleiras estão derretendo, as florestas estão pegando fogo, as concentrações de gás carbônico não param de bater recordes e 14 dos 15 anos mais quentes da história aconteceram neste século. As evidências da mudança climática – e da ação do homem como sua causa primordial – são tantas e tão variadas que seria preciso ter chegado ontem de Marte para negá-las.

Bom, muita gente parece que chegou ontem de Marte e não tem a menor ideia do que está acontecendo pelas bandas de cá do Sistema Solar. Se você é dessas pessoas, seus problemas acabaram! Listamos abaixo a refutação a dez dos argumentos mais comuns dessa patota, para você poder evitá-los e nunca mais passar vergonha ao discutir com amigos que moram aqui na Terra há mais tempo.

1 – “O clima da Terra sempre mudou e sempre mudará. É muita arrogância achar que nós somos capazes de intervir nele

Esse argumento é muito utilizado por alguns geólogos, acostumados a olhar longas escalas de tempo no passado. A primeira parte dele é verdade. Se há uma coisa que a história da Terra nos mostra é que o clima sempre foi muito instável e sempre variou – por razões inteiramente naturais. Há 125 mil anos, tínhamos temperaturas 2ºC mais altas do que na era pré-industrial. Há 3,5 milhões de anos, o planeta era 3ºC mais quente. E, na era dos dinossauros, não havia gelo em lugar nenhum da Terra. De fato, a estabilidade climática do atual período quente, o Holoceno, não tem precedentes nos últimos 400 mil anos de história do planeta.

O que isso informa sobre a mudança climática em curso hoje? Nada. As mudanças climáticas do passado eram todas causadas por variações na atividade solar ou nos ciclos orbitais da Terra. E, claro, quando elas eram bruscas demais, ocorriam extinções em massa (#ficaadica). Muitos cientistas atribuem o próprio florescimento da agricultura, que deu origem à civilização, ao clima estável do Holoceno. Hoje não há nenhum desses fatores naturais atuando no clima, e nenhum sinal de variações astronômicas relevantes pelos próximos muitos milhares de anos. O sinal inequívoco de mudança climática visto hoje se deve à intervenção do homem. Na escala que interessa à civilização, a das décadas e séculos, é essa a mudança climática que importa, não a de dezenas ou centenas de milhares de anos.

2 – “Os meteorologistas não conseguem nem prever se vai chover amanhã, que dirá se vai fazer calor em 2100

Esse argumento deriva de uma confusão comum entre tempo e clima. O tempo são as condições da atmosfera num determinado dia, enquanto o clima pode ser entendido como a média do tempo no longo prazo. O tempo é caótico e dominado por variabilidades de curto prazo (não é à toa que a teoria do caos foi criada por um meteorologista). O clima é algo mais previsível. Não dá para saber se em um determinado dia de janeiro choverá em São Paulo (isso é tempo); mas todo mundo sabe que janeiro é um mês de chuvas em São Paulo (isso é clima).

Antes de tudo, justiça seja feita aos meteorologistas: as previsões do tempo estão cada vez mais precisas, então dá para saber se amanhã vai chover, sim.

Ocorre que, conhecendo o clima de uma determinada região e conhecendo os elementos capazes de alterar o balanço de energia do planeta (em especial os gases de efeito estufa), é possível estimar como ele se comportará, em média, no futuro: se será mais quente, mais frio, mais seco, mais úmido ou mais variável. De fato, uma forma padrão de testar um modelo climático é saber se ele consegue reproduzir a média das condições observadas no passado. Falaremos mais sobre isso adiante.

3 – “Mas a Antártida está ganhando gelo. Foi a Nasa que disse. Logo, não há aquecimento global

Esse argumento ganhou tração nos últimos dias, devido a um estudo publicado pelo glaciologista Jay Zwally, da Nasa, segundo o qual o continente antártico na verdade estaria contribuindo para reduzir o nível do mar. O estudo foi avidamente reportado pela imprensa como um questionamento ao IPCC, o painel do clima da ONU, que diz que a Antártida tem contribuído nos últimos anos para elevar o nível do mar e o fará ainda mais intensamente nas próximas décadas.

Vamos por partes: é preciso saber de que tipo de gelo e de que Antártida se está falando. A Antártida está ganhando gelo, sim, de pelo menos uma maneira: o cinturão de mar congelado que se forma todo ano ao redor do continente está crescendo cerca de 100 mil quilômetros quadrados por ano. As causas disso ainda são incertas, mas muitos cientistas acreditam que o buraco na camada de ozônio esteja deixando o interior do continente mais frio, e a diferença de temperatura entre o centro antártico e a periferia está deixando os ventos mais fortes em volta do continente. Isso empurra a camada de mar congelado para longe da costa, abrindo uma faixa de mar aberto que rapidamente congela. Na Península Antártica, região mais afastada do polo Sul, o oposto acontece: o gelo marinho está diminuindo a cada ano.

O que Zwally e colegas argumentaram em seu estudo é que existe um outro ganho de gelo: o manto de gelo que recobre o continente estaria “engordando” de 1 cm a 3 cm por ano, devido a uma resposta lenta a mudanças ocorridas no fim da última glaciação, 12 mil anos atrás. Essa engorda estaria acontecendo sobretudo no leste antártico, que concentra mais de 85% do gelo do sexto continente. Tal ganho seria capaz de compensar as perdas que o próprioZwally e vários outros colegas já comprovaram, usando vários instrumentos diferentes, estar acontecendo em duas outras regiões: a Península Antártica e o oeste antártico.

Que não haja dúvida aqui: existe perda de gelo no continente antártico, muito bem documentada por satélites da Nasae da Agência Espacial Europeia. Foi a Nasa quem mostrou o rompimento em tempo real de plataformas de gelo na Península Antártica. E foi a Nasa quem revelou, em 1998, que as geleiras do oeste antártico estavam em franco derretimento. No período de 2002 a 2011, a perda de gelo foi de 147 bilhões de toneladas por ano, segundo o IPCC, o que teria elevado o nível do mar em 0,27 milímetro por ano. Quase todo esse gelo vem do oeste antártico. Um estudo recente sugere que o colapso das geleiras do oeste antártico é irreversível e fará o mar subir 3,3 metros na escala de séculos.

O leste é um mistério que os cientistas ainda não conseguiram decifrar. Nenhuma das medições com satélite feitas até aqui conseguiram responder se há ganho ou perda de gelo naquela região. Os cientistas costumam dizer que ela está em equilíbrio.

estudo de Zwally muda algumas premissas sobre os dados e argumenta não apenas que há ganho, mas que esse ganho mais do que compensa as perdas. Mas, como as medições naquela região são muito difíceis de fazer, alguns glaciologistas acham que ele está errado – embora “haja uma chance pequena de que esteja certo”, como disse ao OCo glaciologista Ian Joughin, da Universidade de Washington. A figura abaixo, produzida por um pesquisador da Instituição Oceanográfica de Woods Hole, nos EUA, mostra onde está o consenso em relação à dieta da Antártida: as perdas ou ganhos de gelo são representadas pelos tetângulos. De 13 estudos, o de Zwally (retângulos marrons no alto da imagem) é o único a apontar ganho líquido. A maioria aponta perdas, aceleradas a partir de 2005 (aqui Zwally tem outro problema, já que a série de dados usada por ele só vai até 2008).

Portanto, a Antártida continental está provavelmente perdendo mais gelo do que ganhando, e elevando o nível do mar. E só vai ficar pior no futuro.

4 – “O AGA (Aquecimento Global Antropogênico) é uma teoria anticapitalista da esquerda para regular a livre-iniciativa e dar todo o poder ao Estado” (diz a extrema direita) ou sua variante especular: “O AGA (Aquecimento Global Antropogênico) é a cabeça de ponte do imperialismo” (diz a extrema esquerda).

Parece incrível que alguém ainda use esse tipo de argumentação 25 anos depois da queda do Muro de Berlim. O bom dessas duas falácias é que uma delas já está descartada de cara pela aceitação da outra: afinal, o aquecimento global não pode ser ao mesmo tempo uma conspiração da esquerda (caso em que fica difícil explicar a ação de políticos como Angela MerkelNicolas Sarkozy e Miguel Arias Cañete, todos de partidos conservadores) e da direita (caso em que fica difícil explicar como a verdadeira cabeça de ponte do imperialismo, o Partido Republicano dos EUA, se opõe maciçamente a combatê-lo). Conforme-se, Aldo Rebelo.

5 – “Nos anos 70 previram uma era do gelo”

Nos anos 1970, medições de temperatura mostravam uma tendência de 30 anos de resfriamento em relação ao período pré-2ª Guerra. Isso fez alguns cientistas teorizarem que o Holoceno pudesse estar chegando ao fim e que a Terra pudesse estar entrando numa nova era glacial. A imprensa comprou a história pelo valor de face, embora essa não fosse a opinião majoritária entre os cientistas: um levantamento de 68 artigos científicos sobre o tema naquela época mostra que 10% previam resfriamento global, 62% previam aquecimento e 28% não davam veredicto.

Hoje sabemos, graças aos estudos do clima do passado gravado no gelo antártico, que a longa duração do Holoceno não é sem precedentes na história da Terra: há 400 mil anos, um período interglacial durou 28 mil anos. O nosso tem cerca de 10 mil. Ou seja, a próxima era do gelo causada por fatores naturais ainda deve demorar um tempinho.

6 – “Não há consenso entre os cientistas de que a Terra está esquentando, nem evidência de que isso seja culpa dos seres humanos”

É preciso saber antes o que é consenso e quem são esses cientistas. “Cientistas” é uma categoria ampla demais: ateoria da relatividade geral pode não ser “consenso” entre os zoólogos, assim como a evolução pode não ser “consenso” entre os físicos. A opinião de uns sobre o domínio dos outros vale tanto quanto a de qualquer outro leigo. Como João Gilberto costuma dizer, vaia de bêbado não vale.

Então a pergunta que precisa ser feita é: há consenso entre os climatologistas – que fazem pesquisa na área e publicam suas pesquisas em periódicos com revisão por pares, sujeitos ao julgamento da comunidade científica e ao falseamento – de que o aquecimento global é real e causado por humanos?

O pesquisador australiano John Cook e a turma do site Skeptical Science se fizeram essa pergunta em 2013. Eles vasculharam 12 mil artigos científicos na literatura que mencionavam “aquecimento global” e “mudança climática”, e constataram que 97% deles afirmavam que o fenômeno é real e causado por humanos. Questionários enviados aos autores dos artigos produziram a mesma cifra: 97%. Portanto, sim, há consenso entre os cientistas. Um estudo de 2007 da americana Naomi Oreskes e outro de 2012 de James Powell chegaram às mesmas conclusões. Powell ilustrou seus resultados desta forma:

Agora vamos à segunda parte: há evidências de que isso seja causado por seres humanos? Em outras palavras, existe uma impressão digital humana no clima? Quem responde a essa pergunta são os satélites, esses diabólicos instrumentos da “ideologia aquecimentista”.

Caso a Terra estivesse esquentando por uma mudança na quantidade de radiação que chega do Sol, único fator natural capaz de mudar o balanço de energia do planeta, um satélite que medisse a temperatura ao longo das camadas da atmosfera veria um aquecimento por igual da estratosfera, a camada superior, e da troposfera, a camada mais baixa. Os satélites têm feito essas medidas. E o que eles detectaram? A troposfera está esquentando, OK. Mas a estratosfera está mais fria. Por quê? Porque a radiação solar reemitida pelo planeta na forma de infravermelho (calor) está ficando presa na troposfera. Por quê? Porque há uma mistura de gases na troposfera que são opacos ao infravermelho, ou seja, bloqueiam esse tipo de radiação. Essas medições são coerentes com um agravamento do efeito estufa, ou seja, um aumento na quantidade de CO2, metano, óxido nitroso e vapor d’água (sim, vapor d’água!) na atmosfera. Existe alguma fonte de gases de efeito estufa capaz de fazer isso? Sim: nós.

7 – “Os Estados Unidos tiveram um recorde de nevascas no último inverno. Cadê o seu aquecimento global?”

Aquecimento global é a média da temperatura planetária, associada ao aumento da quantidade de energia armazenada na atmosfera, que leva a mais extremos climáticos, sejam de calor ou de frio (sim, frio), de seca ou chuva, às vezes nas mesmas regiões. O aquecimento aumenta a evaporação dos oceanos e a quantidade de energia na atmosfera. Isso favorece tempestades mais fortes. Onde chove, chove mais, num período mais concentrado (paradoxalmente, isso também aumenta as estações secas). Onde neva, neva mais. É simples assim.

8 – “O aquecimento global parou em 1998”

Esse argumento está errado de tantas maneiras que valeria um post inteiro só para ele. Muita gente de boa fé, incluindo cientistas e jornalistas de ciência veteranos, já foi seduzida por essa tese. Ela afirma que, após 1998, a curva de aumento de temperatura da Terra parece ter “estacionado”, ou seja, o aquecimento aparentemente parou de acelerar. Eu disse aparentemente.

O que aconteceu foi que, primeiro, 1998 foi um ano incomum: teve o El Niño mais forte já registrado antes deste de 2015. O El Niño joga o termômetro para cima no mundo todo. Se você olha a série de dados a partir de 1998, vai ter a impressão de que o aquecimento estacionou, porque começou a olhar de um ponto fora do padrão. O gráfico abaixo mostra como ao olhar a série inteira do século esse efeito desaparece, e vemos claramente uma progressão de aquecimento, com alguns períodos sem aceleração. Mesmo com 15 anos de aparente estase, todos os 15 anos mais quentes da história aconteceram no século 21, à exceção de 1998. É um recorde atrás do outro. Os anos de 2005 e 2010 foram os mais quentes, depois superados por 2014, que será superado por 2015.

A outra explicação para a desaceleração do aquecimento global foi dada pelos pesquisadores americanos Kevin Trenberth e Magdalena Balmaseda: em vez de ir esquentar a atmosfera, a energia em excesso dos gases-estufa estava esquentando as camadas mais profundas do oceano.

Por fim, há quem diga que a tal “pausa” no aquecimento nunca existiu: trata-se apenas uma ilusão estatística.

9 – “É tudo modelo. Se você torturar o modelo, ele te diz qualquer coisa”

Modelos são grandes conquistas da humanidade. Mais até do que a mandioca. Eles permitem fazer perguntas e testar ideias sobre a natureza em situações de outra forma impossíveis. Os remédios que você toma foram testados em modelos celulares e, eventualmente, em animais. O avião no qual você viaja foi testado antes num modelo computacional. Se não houvesse modelos, os aviões teriam de ser testados pela primeira vez na prática, depois de construídos – quem sabe, com uma tripulação de “céticos” da modelagem a bordo.

Como dito acima, modelos de clima (representações matemáticas da Terra, com atmosfera, polos, superfície e mares) precisam ser testados para “prever o passado” antes de colocados para rodar e simular o futuro – ou seja, simular as condições das últimas décadas para ver se a modelagem bate com o que foi medido. Modelos que falham no teste são simplesmente deletados.

Dito isso, os vários modelos climáticos globais têm personalidades matemáticas distintas, que lhes introduz vieses. O modelo do Centro Hadley, do Reino Unido, mostra um mundo em média mais seco no futuro. O modelo japonês Mirocmostra um mundo em média mais úmido. Para diluir o viés e reduzir a chance de erro, o IPCC usa mais de duas dezenas de modelos globais. E eles dão resultados incrivelmente parecidos.

10 – “O professor fulaninho diz que é tudo mentira”

Voltamos à história de quem são os cientistas e qual é o consenso. Até pouco tempo atrás, havia em alguns veículos de imprensa o vício de entrevistar um ou outro negacionista mais midiático como forma de garantir “equilíbrio de visões” nas reportagens, como se em ciência todas as opiniões valessem a mesma coisa (volto à caricatura dos zoólogos debatendo relatividade geral), e como se a academia estivesse dividida 50% a 50% sobre o assunto. Este vídeo hilário do comediante inglês John Oliver mostra como seria se a imprensa resolvesse representar de fato o equilíbrio de visões da academia sobre a mudança do clima.

No Brasil houve dois negacionistas ilustres da mudança climática. Ambos são meteorologistas (ou seja, têm o costume de olhar o tempo, não o clima), a segunda categoria de cientista com mais propensão ao negacionismo climático (a primeira são os geólogos). Os currículos de ambos revelam uma escassez de publicações sobre mudança climática em periódicos indexados em bases de publicações nacionais ou internacionais (a indexação é uma medida, ainda que imperfeita, da seriedade e da relevância de uma publicação acadêmica). No caso de um deles, todos os sete artigos “científicos” que publicou sobre o tema saíram numa obscura revista eletrônica que tinha ele próprio no conselho editorial. Repetindo João Gilberto, vaia de bêbado não vale.

Bolsas de pesquisa – A origem e o conceito de Vida

29/10/2015 16:46

http://www.cyral.org/pt-br/

Becas y Fellowships Oxford Templeton
Segunda Convocatoria

El proyecto “Ciencia, Filosofía y Teología en América Latina”, financiado por la John Templeton Foundation, ha abierto el segundo llamado a concurso para susBecas Oxford Templeton para América Latina y sus Templeton Visiting Fellows a América Latina. Con estas oportunidades el proyecto intentará estimular la investigación y divulgación de ideas relacionadas a la intersección entre ciencia, filosofía y teología. La fecha límite para enviar las postulaciones a ambas convocatorias es el 15 de Abril, 2016.

Becas Oxford Templeton para América Latina

El Ian Ramsey Centre otorgará cuatro Becas Oxford Templeton para América Latina, que les permitirán a jóvenes académicos (estudiantes de posgrado o post-doctorado) programar estancias de investigación en universidades en otras partes del mundo, por hasta seis meses. Puede bajar la convocatoria completa aquí.

También puede ver a los Becarios Oxford Templeton para América Latinaseleccionados en la primera ronda.

Templeton Visiting Fellowships a América Latina

El Ian Ramsey Centre otorgará hasta diez Visiting Fellowships a América Latina, las cuales permitirán invitar a académicos senior de otras regiones del mundo a que visiten Universidades Latinoamericanas, para dictar cursos cortos, workshops, y series de conferencias. Puede bajar la convocatoria completa aquí.

También puede ver a los Templeton Visiting Fellows a América Latina seleccionados en la primera ronda.


Para más detalles acerca de requisitos y fechas límite , visite la gina web del proyecto o acceda a una de las opciones abajo.

Se agradece la difusión de estas oportunidades entre sus redes de contactos.

IHU – A “mais bela” explicação sobre a Criação, segundo Albert Einstein

06/10/2015 13:33

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/547634-a-mais-bela-explicacao-sobre-a-criacao-segundo-albert-einstein

A “mais bela” explicação sobre a Criação, segundo Albert Einstein

“Naturalmente, a fama de Lemaître não demorou para chegar ao Vaticano. Apesar das tentativas depreciativas do tão brilhante quanto desbocado Fred Hoyle e dos seguidores da teoria do universo estacionário — o mesmo Hoyle, durante um programa da Rádio BBC, batizaria com bastante veneno a teoria de Lemaître como Big Bang, em 1949 —, o modelo de universo em permanente expansão era imparável”, escreve Enrique Joven Álvarez, doutor em Ciências Físicas e engenheiro no Instituto de Astrofísica de Canarias (IAC), em artigo publicado por El País, 02-10-2015.

Eis o artigo.

Sabemos que ciência e religião nunca se deram muito bem. Houve um tempo, já distante, que conciliar os dois termos não só era aconselhável, mas quase obrigatório. Caso contrário, perguntem às cinzas de Giordano Bruno ou a seu compatriota Galileu, forçado muito a contragosto a reposicionar a Terra no centro do Universo quando esta já havia encontrado seu lugar. Se para os católicos a situação era difícil, os protestantes não ficavam muito atrás, e Kepler, um contemporâneo de Galileu e Bruno, esteve a ponto ver sua mãe queimada na fogueira assim como a imaginação deBruno por suposta bruxaria.

No entanto, nem sempre os preconceitos circulam na mesma direção. Mesmo em tempos mais recentes.

Talvez um exemplo disso seja o físico e matemático belga Georges Lemaître. Nem mesmo uma cratera na Lua e o nome de uma nave espacial da ESA —o ATV5, que também já virou cinza— nos faz lembrar dele. E isso porque estamos falando do homem que se atreveu a corrigir —educadamente, é verdade— o próprio Albert Einstein, antevendo o que Edwin Hubble comprovaria mais tarde com telescópios de Mount Wilson: a expansão do Universo. O que todos nós conhecemos hoje como o Big Bang.

Lemaître nasceu em Charleroi (Bélgica), em 1894. Apaixonado pelas ciências e engenharia, teve que interromper seus estudos aos 20 anos para defender seu país, imerso na Primeira Guerra Mundial, sendo até mesmo condecorado como oficial de artilharia. Não deve ter gostado nada da experiência e, horrorizado, decidiu virar padre.

Era o ano de 1923. Mas Lemaître não abandonou sua primeira vocação. Sua formação acadêmica em física e matemática foi formidável, começando por sua passagem pela Universidade de Cambridge e terminando com um doutorado no ainda mítico Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Pouco depois, em 1927, publicaria em uma revista local o esboço de seu modelo de universo. Partindo dos postulados de Einstein —um cosmos estático de massa constante—, chega a um resultado totalmente diferente: o raio do universo tinha de crescer continuamente para ser estável. Ao tomar conhecimento da hipótese, o gênio alemão rejeita a ideia veementemente: “Seus cálculos estão corretos, mas o modelo físico é atroz”. E isso mesmo levando em conta queLemaître sempre fazia uso da famosa constante cosmológica inventada pelo próprio Einstein, a qual mais tarde o alemão renegaria com mais veemência do que a utilizada por Galileu para escapar da fogueira purificadora. Em 1931, seu trabalho chegou às páginas da Nature, detalhando sua teoria completa do “átomo primordial” ou “ovo cósmico”, e de suas linhas surgiria o que depois foi chamada exclusivamente Lei de… Hubble.

Einstein e Lemaître concordaram em várias ocasiões. Einstein, agnóstico, duvidava do padre belga, já que seu modelo cosmológico logicamente era acompanhado de uma origem divina (?) no espaço-tempo, e tanto ele quanto muitos astrofísicos não gostavam nada disso. Mas o admirava. Uma vez, durante uma estadia em Bruxelas e dando uma palestra diante de um público erudito, Einstein espetou: “Suponho que não devem ter entendido nada, exceto, claro, o abade Lemaître“. Em território comanche, juntos em Princeton, Einstein também deixou escapar ao ouvir seu colega belga pregar: “Esta [de Lemaître] é a mais bela explicação da Criação que já ouvi”. O detalhe é que realmente estava falando sério.

Naturalmente, a fama de Lemaître não demorou para chegar ao Vaticano. Apesar das tentativas depreciativas do tão brilhante quanto desbocado Fred Hoyle e dos seguidores da teoria do universo estacionário — o mesmo Hoyle, durante um programa da Rádio BBC, batizaria com bastante veneno a teoria de Lemaître como Big Bang, em 1949 —, o modelo de universo em permanente expansão era imparável. Lemaître ocupou diferentes cargos na Academia Pontifícia das Ciências, sendo assessor pessoal do Papa Pio XII. E este não queria deixar passar tal oportunidade. Se o Universo tem 13,7 bilhões de anos, importaria muito se fosse criado em sete dias bíblicos ou em pouco mais de 10 segundos? Para o grande pesar de Pio XII —que, curiosamente, foi elogiado por Einstein em sua defesa dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial—, Lemaître evitou explorar a ciência para o benefício da religião. São suas as palavras:

Einstein, agnóstico, duvidava do padre belga, já que seu modelo cosmológico era acompanhado de uma origem divina Mas o admirava

Depois de escutar Lemaître, o prudente Pio XII abandonou a ideia de transformar o Big Bang em um dogma de fé

“O cientista cristão tem os mesmos meios que seu colega não crente. Também tem a mesma liberdade de espírito, pelo menos se a ideia que tem das verdades religiosas está à altura de sua formação científica. Sabe que tudo foi feito por Deus, mas também sabe que Deus não substitui suas criaturas. Nunca será possível reduzir o Ser Supremo a uma hipótese científica. Portanto, o cientista cristão avança livremente, confiante de que sua pesquisa não pode entrar em conflito com sua fé”. Depois de escutar Lemaître, o prudente Pio XII abandonou a ideia de transformar o Big Bang em um dogma de fé.

Lemaître morreu em 1966, apenas dois anos após a descoberta irrefutável da radiação de fundo em micro-ondas, o eco proveniente da origem do Universo, de seu Big Bang. Talvez seu nome pintado na placa de uma nave espacial não faça justiça suficiente a uma mente —crente ou não— divina.

proibição do uso cruel, letal e abusivo de antibióticos na pecuária industrial

24/09/2015 19:00

Fazendas pecuárias cruéis estão entupindo animais saudáveis de antibióticos para produzir mais carne de forma mais rápida e barata. Esta crueldade insana também está gerando superbactérias resistentes a remédios e que podem nos matar!

Vários países europeus já reduziram drasticamente o uso de antibióticos. Agora os ministros da União Europeia estão negociando leis para fazer o mesmo em todo o continente.

A importância de reduzir a crueldade contra os animais ao mesmo tempo em que se poupa vidas humanas é algo tão óbvio que até mesmo o McDonalds prometeu que pararia de vender frangos que fossem criados com alguns dos antibióticos nos Estados Unidos. Entretanto, o lobby das indústrias farmacêutica e agropecuária trabalha a todo vapor para deter as novas leis europeias.

Dentre os ministros da União Europeia que se reunirão em breve, muitos ainda não decidiram que posição tomar. Vamos fazer uma campanha com milhões de assinaturas pedindo a proibição do uso cruel, letal e abusivo de antibióticos na pecuária industrial e entregar a petição para cada um deles. Assim que vencermos na Europa, vamos levar a causa ao redor do mundo. Assine agora e compartil he com todo mundo:

https://secure.avaaz.org/po/antibiotics_factory_farms_rb_loc_/?tbtGIjb

A Organização Mundial de Saúde emitiu alertas graves sobre como as bactérias resistentes a antibióticos podem torná-los inúteis no combate de doenças infecciosas, como a tuberculose e a pneumonia. Grande parte da medicina moderna depende de antibióticos, incluindo os tratamentos de câncer e operações cirúrgicas — um relatório recente estima que morrerão até 2050 se não salvarmos os antibióticos.

Doses baixas e constantes de antibióticos geram superbactérias. E, embora o abuso de antibióticos da parte das pessoas também contribua para o aumento da resistência, pouco tem sido feito para reduzir a enorme quantidade de antibióticos administrados aos animais de criação: dois terços dos antibióticos produzidos nos EUA e Europa são usados em animais!

Dinamarca, Suécia, Noruega e Holanda mostraram que é possível produzir carne com muito menos antibióticos, mas com a exportação de carne e bactérias através das fronteiras, é preciso efetuar mudanças em outros países.

Muitas pessoas gostariam de fechar fazendas pecuárias perigosas de uma vez por todas. Estas novas leis da União Europeia serão um passo enorme para a melhoria do bem-estar animal e da saúde humana. Porém, de acordo com especialistas, os ministros não estão sentindo nenhuma pressão pública: podemos mudar isso agora.

Assine a petição e espalhe a campanha: quando chegarmos a um milhão de assinaturas, a Avaaz vai conduzir pesquisas de opinião e trabalhar com países defensores da causa para levar a nossa petição direto para o plenário antes da votação na União Europeia:

https://secure.avaaz.org/po/antibiotics_factory_farms_rb_loc_/?tbtGIjb

Milhões de membros da Avaaz ajudaram a proteger baleias, pintinhos de granjas e outros animais. Agora vamos nos unir novamente para proteger um dos pilares da medicina moderna e conquistar essa vitória para os animais e para todos nós.

Com esperança,

Alex, Allison, Laila, Alice, Antonia, Alaphia, Ricken e toda a equipe da Avaaz

MAIS INFORMAÇÕES

Primeiro a saúde e a segurança alimentar! (O Público)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/primeiro-a-saude-e-a-seguranca-alimentar-1691883

Em defesa de uma carne mais saudável (Gazeta do Povo)
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/em-defesa-de-uma-carne-mais-saudavel-5dfrk4fi9jhlmi6wa4tkq2rta

OMS: Infecções comuns podem matar de novo por resistência a antibióticos (Terra)
http://saude.terra.com.br/oms-infeccoes-comuns-podem-matar-de-novo-por-resistencia-a-antibioticos,185895f2aa50d410VgnCLD200000b2bf46d0RCRD.html

Antibióticos – Sumário da resistência antimicrobiana (CIWF) (em inglês)
http://www.ciwf.org.uk/research/human-health/antibiotics-briefing-antimicrobial-resistance/

Resistência a antibióticos é agora “ameaça global”, adverte OMS (BBC) (em inglês)
http://www.bbc.com/news/health-27204988

Alimentos, agropecuária e antibióticos: um desafio para os negócios na área de saúde (The Guardian) (em inglês)
http://www.theguardian.com/sustainable-business/food-farming-antibiotics-health-challenge-business

Por que fazendas também devem lidar com a resistência a antibióticos (EurActiv) (em inglês)
http://www.euractiv.com/sections/health-consumers/why-antibiotic-resistance-must-be-tackled-farm-too-310078

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